sábado, 25 de janeiro de 2014

Ex-escravos lembram rotina em fazenda nazista no interior de SP



Em uma fazenda no interior de São Paulo, 160 km a oeste da capital, um time de futebol posa para uma foto comemorativa. Mas o que torna a imagem extraordinária é o símbolo na bandeira do time - uma suástica.

A foto, provavelmente, foi tirada após a ascensão nazista na Alemanha, na década de 1930.
"Nada explicava a presença dessa suástica aqui", conta José Ricardo Rosa Maciel, ex-dono da remota fazenda Cruzeiro do Sul, perto de Campina do Monte Alegre, que encontrou a foto, por acaso, um dia.
Mas essa foi, na verdade, sua segunda e intrigante descoberta. A primeira tinha ocorrido no chiqueiro.
"Um dia, os porcos quebraram uma parede e fugiram para o campo", ele disse. "Notei que os tijolos tinham caído. Achei que estava tendo alucinações".
Na parte debaixo de cada tijolo estava gravada uma suástica.
É sabido que no período que antecedeu a Segunda Guerra, o Brasil tinha fortes vínculos com a Alemanha Nazista. Os dois países eram parceiros comerciais e o Brasil tinha o maior partido fascista fora da Europa, com mais de 40 mil integrantes.
Mas levou anos para que Maciel, com o auxílio do historiador Sidney Aguillar Filho, conhecesse a terrível história que conectava sua fazenda aos fascistas brasileiros.

Ação Integralista

Filho descobriu que a fazenda tinha pertencido aos Rocha Miranda, uma família de industriais ricos do Rio de Janeiro. Três deles - o pai, Renato, e dois filhos, Otávio e Osvaldo - eram membros da Ação Integralista Brasileira (AIB), organização de extrema direita simpatizante do Nazismo.
A família às vezes organizava eventos na fazenda, recebendo milhares de membros do partido. Mas também existia no lugar um campo brutal de trabalhos forçados para crianças negras abandonadas.
"Descobri a história de 50 meninos com idades em torno de 10 anos que tinham sido tirados de um orfanato no Rio", conta o historiador. "Foram três levas. O primeiro grupo, em 1933, tinha dez (crianças)".
Osvaldo Rocha Miranda solicitou a guarda legal dos órfãos, segundo documentos encontrados por Filho. O pedido foi atendido.
"Ele enviou seu motorista, que nos colocou em um canto", conta Aloysio da Silva, um dos primeiros meninos levados para trabalhar na fazenda, hoje com 90 anos de idade.
"Osvaldo apontava com uma bengala - 'Coloca aquele no canto de lá, esse no de cá'. De 20 meninos, ele pegou dez".
"Ele prometeu o mundo - que iríamos jogar futebol, andar a cavalo. Mas não tinha nada disso. Todos os dez tinham de arrancar ervas daninhas com um ancinho e limpar a fazenda. Fui enganado".
As crianças eram espancadas regularmente com uma palmatória. Não eram chamadas pelo nome, mas por números. Silva era o número 23.
Cães de guarda mantinham as crianças na linha.
"Um se chamava Veneno, o macho. A fêmea se chamava Confiança", conta Silva, que ainda mora na região. "Evito falar sobre esse assunto".
Argemiro dos Santos é outro dos sobreviventes. Quando menino, foi encontrado nas ruas e levado para um orfanato. Um dia, Rocha Miranda veio buscá-lo.
"Eles não gostavam de negros", conta Santos, hoje com 89 anos.
"Havia castigos, deixavam a gente sem comida ou nos batiam com a palmatória. Doía muito. Duas batidas, às vezes. O máximo eram cinco, porque uma pessoa não aguentava".
"Eles tinham fotografias de Hitler e você era obrigado a fazer uma saudação. Eu não entendia nada daquilo".
Alguns dos descendentes da família Rocha Miranda dizem que seus antepassados deixaram de apoiar o Nazismo antes da Segunda Guerra Mundial.
Maurice Rocha Miranda, sobrinho-bisneto de Otávio e Osvaldo, também nega que as crianças eram mantidas na fazenda como "escravos".
Em entrevista à Folha de São Paulo, ele disse que os órfãos na fazenda "tinham de ser controlados mas nunca foram punidos ou escravizados".
O historiador Sidney Aguillar Filho, no entanto, acredita nas histórias dos sobreviventes. E apesar da passagem do tempo, ambos Silva e Santos - que nunca mais se encontraram desde o tempo em que viveram na fazenda - fazem relatos muito parecidos e perturbadores de suas experiências.
Para os órfãos, os únicos momentos de alegria eram os jogos de futebol contra times de trabalhadores das fazendas locais, como aquele em que foi tirada a foto onde se vê a bandeira com a suástica. (O futebol tinha papel fundamental na ideologia integralista.)
"A gente se reunia para bater bola e a coisa foi crescendo", diz Santos. "Tínhamos campeonatos, éramos bons de futebol."
Mas depois de vários anos, ele não aguentava mais.
"Tinha um portão (na fazenda) e um dia eu o deixei aberto", ele conta. "Naquela noite, eu fugi. Ninguém viu".
Santos voltou ao Rio onde, aos 14 anos de idade, passou a dormir na rua e trabalhar como vendedor de jornais. Em 1942, quando Brasil declarou guerra contra a Alemanha, Santos se alistou na Marinha como taifeiro, servindo mesas e lavando louça.
Depois de trabalhar para nazistas, Santos passou a lutar contra eles.
"Estava apenas prestando um serviço para o Brasil", explica. "Não sentia ódio por Hitler, não sabia quem ele era".
Santos saiu em patrulha pela Europa e depois passou um período, ainda durante a guerra, trabalhando em navios que caçavam submarinos na costa brasileira.
Hoje, Santos é conhecido, na comunidade onde vive, pelo apelido de Marujo. E se orgulha de um certificado e uma medalha que recebeu em reconhecimento por seus serviços durante a guerra.
Mas ele também é famoso por suas proezas futebolísticas, jogando como meio de campo em vários grandes times brasileiros na década de 1940.
"Naquela época, não existiam jogadores profissionais, éramos todos amadores", diz. "Joguei para o Fluminense, Botafogo, Vasco da Gama... Os jogadores eram todos vendedores de jornais e lustradores de sapatos".
Hoje, Santos vive uma vida tranquila com a esposa, Guilhermina, no sudoeste do Brasil. Eles estão casados há 61 anos.
"Eu gosto de tocar meu trompete, de sentar na varanda e tomar uma cerveja gelada. Tenho muitos amigos e eles sempre aparecem para bater papo", conta.
As lembranças do tempo difícil que passou na fazenda, no entanto, são difíceis de apagar.
"Quem diz que sempre teve uma vida boa desde que nasceu está mentindo", diz Santos. "Na vida de todo mundo acontecem coisas ruins".

Fonte: BBC Brasil.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Proibido ter prazer

Reprodução


Cultura da virilidade e forte repressão da Igreja sufocaram a liberdade sexual indígena e africana, dando origem ao Brasil machista

Luiz Mott

“Não existe pecado abaixo do Equador”, repetiam gostosamente nossos colonizadores, entusiasmados com a nudez das índias e africanas, presas fáceis de seus desejos reprimidos. Mas seria ilusão imaginar uma terra sem pecado. Ainda mais quando os próprios colonizadores traziam consigo uma tradição de forte repressão religiosa às práticas sexuais.
A sexualidade humana é sempre uma construção cultural, e a dopovo brasileiro resulta da conjunção de três matrizes. O modelo sexual hegemônico dos donos do poder fundava-se na moral judaico-cristã, fortemente marcada pela “sexofobia” – uma espécie de medo dos prazeres sexuais. Do outro lado, os modelos periféricos indígena e africano caracterizavam-se pela grande permissividade sexual, nos quais os próprios deuses tribais reproduzem as práticas carnais dos humanos. Para evitar tais ameaças desestabilizadoras, diversas instâncias da Igreja no Brasil colonial se mobilizaram, impondo como modelo único a moral católica, baseada no Antigo e Novo Testamentos e no Catecismo Romano publicado pelo Concílio de Trento (1545-1563).
A moral sexual católica tinha como traços fundamentais o tabu da nudez, a monogamia, a indissolubilidade do matrimônio sob o comando do patriarca, a virgindade pré-nupcial e a forte condenação da homossexualidade e do travestismo. De forma oportunista, tolerava-se o pecado mortal da prostituição, um mal necessário para garantir a pureza das donzelas casadouras. Na contramão de moral tão rígida, as culturas sexuais dos indígenas e africanos escravizadoslidavam tranquilamente com a nudez, praticavam a poligamia generalizada e os tabus escandalosos de incesto para os cristãos. Além disso, conviviam pacificamente com praticantes do homoerotismo e do travestismo tanto masculino quanto feminino. “Os tupinambás são tão luxuriosos que não há pecado de luxúria que não cometam; os quais sendo de muito pouca idade têm conta com mulheres... e em conversação não sabem falar senão nestas sujidades, que cometem cada hora. São mui afeiçoados ao pecado nefando (homossexualidade), entre os quais se não tem por afronta; e o que serve de macho, se tem por valente, e contam esta bestialidade por proeza”, alertava, na Bahia de 1587, o senhor de engenho português Gabriel Soares de Sousa.
Em meio à diversidade cultural das centenas de etnias da diáspora negra, a sexualidade dos africanos que vieram escravizados para o Novo Mundo incluía o livre exercício da poligamia, a prática da circuncisão nos meninos e das mutilações genitais nas donzelas e a aceitação da homossexualidade.
"Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime", escreve Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala (1933), demonstrando que a exacerbada licenciosidade erótica observada no Brasil Colonial deve ser explicada não por "defeito" dos africanos e indígenas, mas pelo abuso de uma raça por outra: “ao senhor branco, e não à colonização negra, deve-se atribuir muito da lubricidade brasileira”.
O machismo ibérico assumiu no Novo Mundo uma feição muito mais agressiva do que a observada em Portugal e Espanha à época das Descobertas. Nas Américas, somente com extrema violência e autoritarismo a minoria branca senhorial conseguia manter submissa a enorme massa populacional de índios, negros e mestiços. Daí ter-se desenvolvido um código de hipervirilidade, que repelia entre os machos brancos, como se repele a peste, qualquer conduta ou atitude efeminada, pois ameaçavam os alicerces da manutenção dessa sociedade profundamente hierárquica. Aí está a raiz do machismo e da homofobia à brasileira, filhos bastardos da escravidão.
Com vistas a evitar que a Terra da Santa Cruz se convertesse numa filial de Sodoma, a cruz e a espada se uniram para manter o rebanho obediente à tradicional moral cristã, tudo fazendo para garantir a primazia da única expressão permitida de canalização dos desejos da carne: o leito matrimonial visando à reprodução da espécie, cumprindo assim o decreto divino “Crescei e multiplicai-vos”.
Desde os primórdios da colonização, a primeira e constante cruzada dos jesuítas, franciscanos e demais missionários era combater a nudez de índios e africanos, obrigando os senhores a providenciar roupas para tapar as vergonhas de seus cativos. Também lutaram incansavelmente para limitar os tratos ilícitos e a mancebia dos brancos com mulheres de cor, erradicar a bigamia e a poligamia, além de reprimir os praticantes do abominável pecado de sodomia. Muitas foram as estratégias utilizadas pela hierarquia eclesiástica na repressão às sexualidades desviantes, interpretadas como ciladas do demônio contra a salvação dos filhos de Deus: o catecismo ensinado nas igrejas com ênfase no sexto Mandamento, “não pecar contra a castidade”, as pregações nos púlpitos e nas santas missões ameaçando os imorais com o fogo do inferno, as devassas episcopais e as visitações do Santo Ofício que percorriam de tempos em tempos grande parte da América portuguesa, estimulando denúncias e confissões de desvios da moral sexual.
Numerosos colonos foram denunciados à Santa Inquisição, não só por adotarem comportamentos sexuais condenados como pecados mortais – incluindo supostas cópulas com o próprio Demônio – mas também por desafiarem a moral divina, defendendo, por exemplo, que não era pecado manter relação sexual com índias, desde que se lhes pagasse nem que fosse com uma camisa. Outros defendiam proposições heréticas, como a de que casar era melhor do que ser padre e fazer voto de castidade, embaralhando a hierarquia celestial na qual as virgens e os religiosos celibatários estavam mais próximos do trono de Deus do que os casados, as viúvas e as ex-prostitutas.
Todas as pessoas eram obrigadas a se confessar ao menos uma vez por ano, por ocasião da Páscoa. O pecador tinha que desfazer uniões sexuais não permitidas sob o risco de não receber a absolvição e ir direto para o inferno após a morte. Era indispensável a todo católico o “certificado de desobriga”, podendo ser multado ou até degredado para a África caso se tratasse de um desviante sexual público e notório. Enquanto os párocos e os bispos reprimiam com advertência e multa os adúlteros e amancebados, os inquisidores perseguiam os bígamos, sodomitas e padres que assediavam sexualmente suas penitentes. Mais de uma centena destes desviantes sexuais foram presos e penaram rigorosos castigos nos cárceres secretos da Inquisição de Lisboa.
Para aterrorizar os faltosos e inibir novas delinquências, a Igreja proclamava suas sentenças condenatórias na mesma freguesia onde viviam e onde cometeram tais escândalos imorais. Além disso, abusou da pedagogia do medo, aplicando castigos públicos, como o imposto em 1591 pelo visitador do Santo Ofício em Salvador contra Felipa de Souza, 35 anos, costureira, culpada de diversos namoricos com outras mulheres, “dormindo na mesma cama, ajuntando seus vasos dianteiros e deleitando-se”. O ouvidor da Capitania levou-a do Terreiro de Jesus até a Sé da Bahia, onde vestida simplesmente com uma túnica branca, descalça, com uma vela na mão, de frente para a Mesa Inquisitorial, ouviu sua ignóbil sentença. Em seguida foi açoitada publicamente pelas principais ruas da então capital da Colônia, enquanto o ouvidor lia o pregão: “Justiça que o ordena fazer a Mesa da Santa Inquisição: manda açoitar esta mulher por fazer muitas vezes o pecado nefando de sodomia com mulheres, useira e costumeira a namorar mulheres. Que seja degredada para todo o sempre para fora desta capitania”.
O Tribunal da Santa Inquisição seria extinto apenas em 1821. Só então a Igreja perdeu o poder de prender, açoitar, sequestrar e queimar os delinquentes sexuais. Três séculos desta ferrenha repressão deixaram sequelas: o Brasil é destaque mundial em casos de abuso sexual, gravidez de adolescentes, altíssimos índices de contaminação pela Aids por relações sexuais, crimes homofóbicos. A moral cristã errou em perseguir bígamos, sodomitas, libertinos e livres pensadores. Inquisição, nunca mais.

Luiz Mott é professor da Universidade Federal da Bahia e autor de O sexo proibido: virgens, gays e escravos nas garras daInquisição(Papirus, 1989).

Fonte: Revista de História.

Orgulho brasileiro, Genoíno orgulho...



Li hoje num blog esportivo uma postagem com o título Vira-latas. O blogueiro, que acompanho diariamente dissertou sobre o complexo de vira-latas brasileiro e a eterna má vontade do povo tupiniquim para com seu país. Ele deixa claro que as coisas não estão a maravilha que pregam, mas que tenta  ver as coisas por outro prisma. Seguem suas palavras:
"Basta 5 minutos de um novo dia para ler ou ouvir alguém dizer “que este país é uma merda”.  E eu, pacheco, digo que não.  Mas não porque eu discorde, e sim por entender que não se mudará nada com rebeldia, mas sim com orgulho."
E creio que ele esteja com a razão, pois, o povo brasileiro tem a mania de reclamar de tudo, valorizar o de fora e depreciar suas coisas, isto é fato. 
Mas também há o contra-ponto que a todo momento nos é jogado na cara pelos fatos cotidianos da nossa sociedade, e sim, nos levam a assumir que isto aqui está uma merda e que se dane o orgulho. 
E o caso expoente do momento é a "vaquinha" do Genoíno.
Aí paramos e pensamos: será realmente complexo de vira-latas ou falta de vergonha na cara mesmo...
Comemoramos como nunca a condenação e a posterior prisão de gente graúda. Estes "graudos" além de perderem a liberdade ainda foram condenados a pagarem multas por seus crimes...maravilha!
E aí vem a vaquinha do Genoíno...
E fode tudo!
E o orgulho, se transforma em vergonha!
Sinceramente, não entendo e muito menos aceito: o cara mete a mão, é condenado, é multado e é perdoado...porque, sim foi perdoado, ao menos por seus "doadores".
E isto envergonha...
Não me importa qual ideologia você segue e acredita. Somos livres para pensar, analisar e escolher. É um direito!
Mas meu orgulho brasileiro se dissolve, quando vejo que pessoas, em nome da ideologia que defendem abrem mão da justiça e perdoam quem os roubou. 
Aceitam ser espoliados duas vezes, no crime praticado e na doação de seu precioso dinheiro para "salvar" o condenado. Vai entender...
Penso que alguns podem até ter tirado dinheiro de alguma bolsa social que recebam do Estado e doado ao condenado. Porque não?!
Tento me manter otimista, afinal as pessoas são assim, plurais, seja para o bem ou para o mal.
Meu orgulho brasileiro esperneia e grita, ainda é grande, apesar de tudo!
Mas também não há como negar,  minha vergonha é maior!
Orgulho, vergonha.
Preciso pagar minhas contas, alguém aí se disponibiliza a fazer uma vaquinha?

Abraços!


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Universo em expansão pode surgir sem Big Bang


Universo em expansão pode surgir sem Big Bang
Será que poderemos deixar o Big Bang para trás? A nova receita para fazer um Universo se resume a aquecer e mexer. [Imagem: TU Vienna]

Transição de fase do espaço-tempo
Um universo em expansão como o nosso pode emergir de uma forma extremamente simples, que mais parece uma receita de sopa instantânea - é só aquecer e mexer.
Quando uma sopa esquenta, ela começa a ferver e fica pronta.
Quando o tempo e o espaço são aquecidos, fica pronta não uma sopa, mas um universo em expansão, sem a necessidade de qualquer outro ingrediente - como um "Big Bang", por exemplo.
Esta transição de fase entre um espaço vazio entediante e um movimentado universo em expansão, pleno de matéria, acaba de ser demonstrado matematicamente por uma equipe das universidades de Tecnologia de Viena (Áustria), Edimburgo (Escócia), Harvard e MIT (EUA).
Mais do que tentar deixar de lado a ideia do Big Bang, a ideia por trás deste resultado estabelece uma conexão notável entre a teoria quântica de campos e a teoria da relatividade de Einstein.
Há poucos dias, outra equipe já havia demonstrado que os buracos de minhoca e o entrelaçamento quântico podem ser diferentes manifestações da mesma realidade física, também alinhavando uma conexão entre mecânica quântica e relatividade geral.
Um livro de receitas para o espaço-tempo
Todo o mundo conhece as transições entre as fases líquida, sólida e gasosa. Mas tempo e espaço também podem sofrer uma transição de fase, como os físicos Steven Hawking e Don Page demonstraram em 1983. Eles calcularam que o espaço vazio pode se transformar em um buraco negro a uma temperatura específica.
O que os físicos estão propondo agora é que um processo similar pode criar um universo em expansão inteiro - como o nosso - com uma temperatura crítica em que o espaço-tempo vazio se transforma em um universo, com toda a sua massa.
"O espaço-tempo vazio começa a ferver, pequenas bolhas se formam, uma das quais se expande, e eventualmente engloba todo o espaço-tempo," explica Daniel Grumiller, da Universidade de Tecnologia de Viena, o mesmo que está por trás da teoria do universo holográfico.
Para que isso seja possível, o universo tem de girar, de forma que a receita para a criação de um universo fica sendo simplesmente "aquecer e mexer". E a rotação necessária pode ser arbitrariamente pequena.
Nessa primeira abordagem da nova teoria, os físicos consideraram apenas um espaço-tempo com duas dimensões espaciais. "Mas não há nenhuma razão pela qual o mesmo não seja verdade para um universo com três dimensões espaciais," disse Grumiller.
Universo holográfico
A nova teoria é o passo lógico seguinte após a chamada "correspondência AdS-CFT", uma conjectura apresentada em 1997, que influenciou fortemente a investigação fundamental em física desde então. Ela descreve uma ligação entre as teorias da gravidade e as teorias de campo quântico, propondo que as afirmações das teorias quânticas de campo podem ser traduzidas em afirmações sobre teorias gravitacionais, e vice-versa.
Nesse tipo de correspondência, a teoria quântica de campos é sempre descrita em uma dimensão a menos do que a teoria gravitacional - esse é o chamado de "princípio holográfico".
De forma semelhante a um holograma bidimensional, que pode representar um objeto tridimensional, uma teoria quântica de campos com duas dimensões espaciais pode descrever uma situação física em três dimensões espaciais.
Para isso, os cálculos gravitacionais geralmente têm de ser feitos em uma espécie exótica de geometria - nos chamados "espaços anti-de Sitter", que são bastante diferentes da geometria plana à qual estamos acostumados.
No entanto, tem-se suspeitado já há algum tempo que possa haver uma versão semelhante do "princípio holográfico" para espaços-tempos planos. Mas, por muito tempo, ninguém conseguiu construir um modelo demonstrando isso.
No ano passado, Daniel Grumiller e seus colegas estabeleceram um modelo de princípio holográfico.
Isto levou ao problema agora abordado e à transição de fase do espaço-tempo.
Transições de fase em teorias quânticas de campo são bem conhecidas. Mas, por razões de simetria, isto significaria que as teorias gravitacionais também deveriam apresentar transições de fase.
"No começo, este era um mistério para nós," disse Grumiller. "Isso significaria uma transição de fase entre um espaço-tempo vazio e um universo em expansão. Para nós, isso soou extremamente improvável."
Mas os cálculos mostraram exatamente isso. "Estamos apenas começando a entender essas notáveis relações de correspondência," acrescenta Grumiller.
Quais novas ideias sobre nosso próprio Universo poderão ser derivadas desses novos conceitos é algo difícil dizer - só o espaço-tempo dirá.
Bibliografia:

Cosmic Evolution from Phase Transition of Three-Dimensional Flat Space
Arjun Bagchi, Stephane Detournay, Daniel Grumiller, Joan Simón
Physical Review Letters
Vol.: 111, 181301
DOI: 10.1103/PhysRevLett.111.181301
Fonte: Inovação Tecnológica.

Estamos voltando!

Amigos,
Antes de tudo peço desculpas pela ausência de atualizações deste blog nos últimos seis meses. Foi um período onde realmente me faltou tempo para manter este espaço atualizado, pois tive que colocar todo o meu foco em meu pequeno negócio. Foi um período de muitas dificuldades, processo inerente a todo novo empreendimento que sofre um bocado durante seu período de maturação.
Entendo que alguns amigos leitores do blog tenham se chateado com a parada, e à eles e principalmente à todos os que de alguma forma participaram em algum momento da história deste espaço peço desculpas pela quebra de confiança e espero que consiga novamente tê-los de volta neste espaço, afinal, mesmo com o blog inativo, chegamos a mais de 70.000 visitas!
Este fato me enche de orgulho, mas também nos mostra a responsabilidade que temos para com todos que se dispuseram a dar uma passada por aqui.
Em nome deles é que resolvi novamente reativar o blog e dar continuidade à divulgação dos temas que fizeram a curta, mas vitoriosa história deste. Lembro que o blog tem meu nome, e nele divulgarei assuntos que me agradam e que acredito deverão agradar a algumas pessoas. Trataremos aqui de História, Segurança e Defesa, Ciência, Astronomia, Secularismo e até futebol, afinal, costumamos nos interessar por diversos assuntos.
Mas gostaria também de deixar claro à todos que não tenho como manter o ritmo de atualizações que mantive no passado, chagando a postar mais de dez matérias por dia. Isto de fato hoje é impossível, pois tenho que continuar meu trabalho no desenvolvimento e crescimento de minha pequena confecção. E todos sabemos o quanto é complicado empreender neste país, principalmente quando não se tem muitos recursos e que qualquer erro pode levar-lhe ao fim de um sonho.
Assim sendo, convido-os novamente a nos visitar, a rever as matérias antigas e a aguardar as que estão sendo preparadas.
Mas, para aquecer as turbinas, enquanto minha pauta vai sendo definida, trabalhada e finalizada, reproduzo aqui uma excelente matéria publicada no excelente site Inovação Tecnológica ( um dos meus favoritos sobre ciência e tecnologia em português ).
Um abraço a todos, aproveitem e sejam bem vindos!!!





quarta-feira, 20 de junho de 2012

Por Sagran Carvalho


No centro de uma galáxia 4 bilhões de anos-luz da Terra, algo de extraordinário está acontecendo. Esta galáxia, conhecida como CID-42, contém um buraco negro supermassivo. Este fato em si não é tão incomum. A diferença na CID-42 é que este buraco negro foi expulso da sua galáxia anfitriã em vários milhões de quilômetros por hora.

O que levou à expulsão do buraco negro? Os astrônomos acreditam que no passado CID-42 e colidiu com outra galáxia. Quando isso acontece, os dois negros buracos centrais entraram em choque e se fundiram. O novo buraco negro recebeu um forte impulso a partir de ondas gravitacionais, um fenômeno previsto por Einstein, mas nunca detectadas diretamente.

Os astrónomos há muito estudada a CID-42, que levou os novos dados de alta resolução da câmera de Chandra para identificar para identificar exatamente de onde vieram os raios X, que ajudaram a esclarecer o que estava acontecendo nesta galáxia.

Por Sagran Carvalho.


Seqüência começa com uma ampliação de visão da Via Láctea a convergir para uma região de formação de estrelas na constelação do Escorpião. Ele revela uma curiosa paisagem de muitas estrelas, gás quente e poeira.

A alargada termina imagem muito mais detalhada de uma área espetacular deste aglomerado estelar NGC 6357 incubadora.